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ROSÁLIA SANDOVAL
(1876-1956)
Professora primária e literata Rita de Souza Abreu, mais conhecida pelo pseudônimo literário de Rosália Sandoval, nasceu em Maceió provavelmente em 1876 e faleceu no Rio de Janeiro em 1956, aos 80 anos.
Mais a frente, em 1912, ela assumiu o cargo de diretora e
professora do Colégio Auta de Souza. Por volta de 1917, Rita de Abreu encontrava-se
professora no colégio Pritaneu Alagoano, de propriedade de Esmeralda Roza e Silva,
onde ensinava letras e artes juntamente com Anna Sampaio Duarte, filha da escritora e
também professora Maria Lúcia Romariz. Foi colaboradora de vários periódicos de
capitais brasileiras com poesias e contos.
Fragmento de biografia por Mariana Tenório da S. Lima.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernadoAVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado bibl. Antonio Miranda
CASINHA BRANCA
Eu tive um sonho que viveu florido,
que era o senhor das ilusões escravas;
— uma casinha num oiteiro lindo,
toda cercada de roseiras bravas.
Casinha branca, tu que dominavas
tudo que no futuro ia surgindo,
a noite das tristezas me aclaravas,
porque eras o meu sonho infindo.
E durou tanto esse formoso sonho,
que muitas vezes, hoje, ainda suponho
que o meu sonho tão lindo não fugiu!
É que a esperança, mesmo quando mente,
sabe tanto prender-se à alma da gente,
que, partilhando, parece não partiu!
ARLEQUIM
Dizem que, antigamente, numa escola,
um dos alunos, o mais pobrezinho,
chamava-se Arlequim.
Era tão pobrezinho o coitadinho!
Mas dentro de su´alma, que riqueza!
Que bondade sem fim!
Chega o Carnaval.
A criançada
alegre, alvoroçada,
expande pelas salas da escola
toda a alegria de que estava impregnada.
Um contava, outro contava
como ia ser a sua fantasia
que a mamãe preparava.
Somente Arlequim nada dizia.
Um dos colegas fala à queima-roupa:
— Que vais representar, ó Arlequim?
Irás fantasiado de segredo?
Tão calado assim?...
E o menino por todos estimado
respondeu meigamente:
— Minha mãe, bem sabeis, é pobrezinha.
Fosse eu lhe falar
em fantasias de Carnaval
a faria chorar.
Eu me contento
com a alegria de vocês, meus coleguinhas.
Ao vê-los rir, pular, cantar,
minh´alma canta e pula no meu peito.
E vejo em cada trejeito
dum coleguinha amigo
o meu contentamento a saltitar!
Fez-se grande silêncio em toda a sala.
Os meninos se olharam surpreendidos.
Em seguida se ouviu sonora fala:
— Colegas,
provemos a Arlequim nossa afeição.
Amanhã,
cada um de nós há de trazer retalhos
de sua fantasia,
quer seja dominó ou jaquetão,
para Arlequim...
Um dia após o da combinação,
a boa mamãezinha do Arlequim
sorrindo, transformou em quadradinhos
os retalhos de seda e de cetim.
Depois... o que se sabe
é que o traje mais bizarro,
mais gracioso e mais original
que apareceu em todo o Carnaval
daquele ano distante,
fora a fantasia do Arlequim.
Fantasia ideal,
feita dos retalhos que lhe deram
os colegas gentis
e do talento que as mãos pobre têm
de transformar um nada numa graça,
de mudar um farrapo num jasmim...
E Arlequim
fora o eleito do belo Carnaval
daquele ano remoto,
pelo traje tão lindo e tão perfeito,
que ficou imortal!
..................................................
Quantos seres neste mundo
que andam assim!
com a vida comparada
ao traje do Arlequim!
FIM DE OUTONO
Tudo ficou atrás. A mocidade
que se foi devagar, tão sutilmente,
que eu bem julgava tê-la ainda presente
quando já era sombra do passado.
Quanta vez me procuro, na ansiedade
de me encontrar em tudo o que a alma sente!
Sou assim mesmo? — interrogo — o tempo mente?
O que vejo é mentira ou verdade?
Só reconheço em mim o sentimento.
Este é o mesmo — bem sei — ficou isento
da derrocada... de um caos, um abantesma.
Tudo que outrora foi ledo e risonho,
Hoje me surge à mente como um sonho,
nesta grande saudade de mim mesmo.
MINHA CASA
A minha casa é pobre, mas tão linda!
Pela manhã diversos passarinhos
ledos, vêm cantar
dentro do meu jardim, nos canteirinhos,
e dentro do pomar.
Vejo palácios de beleza imensa,
cuja deslumbrante arquitetura
a mente abrasas...
Contudo os não prefiro à sã ventura
que sinto quando estou na minha casa.
À tarde, quando o pai vem do trabalho,
— da luta nobre que nos dá o pão,
cotidianamente, —
mamãe o abraça e eu beijo-lhe a mão...
Como é feliz a gente!
À mesa do jantar, todos reunidos.
A louça limpa, os vidros cristalinos,
a comida cheirosa...
A Ventura nos vendo assim unidos,
Atira sobre nós pétalas de rosa.
E, quando um dia a contingência humana,
obrigar-me esta casa que amo tanto,
a abandonar,
será com a alma toda imensa em pranto
que deixarei o meu querido lar!
*
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Página publicada em junho de 2021
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